quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Futilidade.

Hoje estava um pouco entediada à tarde, pulando de canal em canal, procurando algo que parecesse interessante. Tive a infelicidade de parar em um programa qualquer, no qual uma linda menina comentava como sentia-se após ter posto 'silicone' nos seios. Entre comentários como 'as peitudas curtem mais a vida', 'sim, os homens me olham mais' e 'tripliquei meu lucro como modelo', houve um que me pareceu ainda mais decadente; 'Me sinto mais mulher agora'.
Acho que fiquei alguns segundos estática olhando para a tela sem acreditar ao certo no que havia ouvido. Detalhe; não fiquei sequer cinco minutos no tal canal para presenciar todos estes comentários da parte dela, com direito a aparições de uma amiga igualmente fútil e alguns homens olhando descaradamente o volume implantado.
Afinal, o que é ser mulher? Existem mulheres e 'mais mulheres'? E o que define que uma mulher é mais mulher que outra?
Acredito que todos entenderam que a razão dela se sentir 'mais mulher' é obviamente o novo tamanho de seu sutiã, acompanhado dos olhares por parte do sexo oposto (que parecia estar apreciando uma Ferrari, ou quem sabe um outro objeto cobiçado).
Em um século no qual as mulheres ainda têm de lutar por igualdade e respeito, deparo-me com um exemplo puro do pensamento machista incubado em uma cabeça frágil. Sinceramente, doeu dentro da minha alma.
Aos meus ouvidos, tal programa soou como um incentivo à injusta ditadura da beleza, dos padrões e da transformação da mulher em um objeto a ser explorado estéticamente. Um OBJETO. Para nos tornarmos mais mulheres, devemos ser mais objetais, mais risonhas, agradáveis, afáveis e amáveis para com o sexo oposto, mais peitudas, mais magras, mais bundudas, mais 'curvilíneas'. Devemos saber sambar, devemos usar nosso corpo e charme para conquistar o que desejamos.
Pouco importa a inteligência, a sensibilidade incomparável para com o mundo, a força de vontade, a maternidade, os desejos e pensamentos próprios que temos. Se quer ser uma mulher, seja bonita, gostosa, burra, comprável, descartável e, acima de tudo, 'comestível'.
Se você teve sorte e nasceu com a beleza quase inalcansável imposta pela mídia, meus parabéns, ao que parece você é mais mulher do que aquela que não se encaixa em tais quesitos.
O pior é que, mesmo conhecendo a grande futilidade disso tudo e do fundo capitalista de exemplos como este, a auto-estima feminina ainda fica abalada ao sentir que não chegou e não chegará a ser como estes exemplos.
Triste realidade.

7 comentários:

Unknown disse...

Nos dias de hoje, vê-se nitidamente que as próprias mulheres tem se desvalorizado de uma forma assombrosa com coisas como Funk (no qual as mulheres são representadas como violões, corpo escultural porém vazias por dentro). Vê-se isso nitidamente em músicas de cunho extremamente machista e ignorante como por exemplo a "Dança do Créu"... Um energumeno que faz música com uma média de 50 palavras diferentes na música toda e que a única coisa que ele repete no decorrer da mesma é uma onomatopéia extremamente idiota. Se o Brasil continuar dessa forma, nos próximos anos não duvido que o nosso Presidente se torne um completo analfabeto que, assim como a maioria da população, valoriza mais a aparência das pessoas do que o seu conteúdo.

By: Art

Tv BoLoVo disse...

Hoje em dia ,há algumas mulheres que se prende a esses tipos de valores estéticos , elas fazem esses tipos de cirugia para aumentar a auto estima,ou outras fazem para chamar a atenção da midia.
Mas na minha opinião eu acho que essa mulheres não tem pingo de amor próprio e opinião ,acho ela devem ser muito vazias por dentros.
Por não consiguirem aceitar suas verdadeiras formas e se prender a valores supérfolos.

Ráines disse...

Interessante. As vezes não comento em blogs devido aos assuntos serem muito " cabeças" ou coisa do tipo. Esse por exemplo é um tema cuja discussão poderia ficar aqui dias e dias, cada um dando sua opinião.

Pelo que li do seu post, e dos comentários, vi em todos uma unanimidade quanto diz respeito a 'beleza' estar sendo associada à 'futilidade'. Tenho uma opinião eclética quanto a isso.

Temos dois pontos de vista. O primeiro que diz: "-Me senti mais mulher após a cirurgia" e o outro ponto de vista das que acham justamente isso uma futilidade.

Meu ponto de vista é voltado para ambos os lados. Não concordo plenamente com a frase: "-Me senti mais mulher..." Contudo, não posso admitir que esse modo de pensar é fútil. A sociedade em geral vem exigindo cada vez mais das pessoas. Seja economicamente ou estéticamente. Na verdade, a aparência hoje em dia valeu muito, mas muito mais, e querer ficar melhor (utilizando-se de todos os métodos possíveis) não é ser fútil, é apenas acompanhar a evolução dos tempos. Não são apenas as mulheres a pensar assim. Homens também pensam a mesma coisa, nós apenas não costumamos falar nada, afinal não vemos necessidade, mas cada vez mais homens procuram clínicas estéticas.

Bom, aí está minha opinião nua e crua, como diria alguém que eu esqueci HAUSHAUSH

Bye ;D

Att
Ráines

Unknown disse...

nem elas são assim. câmera muda td.

Kátia Cajá disse...

É muito raro isso acontecer, mas das poucas vezes que eu ligo a televisão, SEMPRE, I-N-V-A-R-I-A-V-E-L-M-E-N-T-E eu encontro machismo. Que surpresa ver que até nos seus comentários tem machismo. "querer ficar melhor (utilizando-se de todos os métodos possíveis) não é ser fútil, é apenas acompanhar a evolução dos tempos". Desde qdo isso é evolução???????????????????? Nós deixamos d priorizar os valores p/ priorizar a aparência, e alguém acha q evoluímos? .__.
Essa coisificação da mulher, esse negócio de reduzí-la a buceta, a mero objeto sexual e não mais do que isso, é tão bem feito q até as próprias mulheres aderem a isso - nem imaginam o mal que estão fazendo a si próprias.
Não condeno ninguém por colocar silicone. Não é melhor nem pior do q tirar a sombrancelha, se depilar, passar maquiagem... todos esses dão dinheiro para a indústria machista do mesmo jeito, aderem ao padrão de beleza imposto do mesmo jeito, são uma forma d buscar o q a nossa sociedade chama d belo do mesmo jeito... o silicone nada mais é do que o bode expiatório da indústria da beleza. Como infelizmente ter uma boa aparência é uma questão de sobrevivência social, não há como escapar d fazer alguma dessas coisas. De uma forma ou de outra, todo mundo "se produz". E não é só na nossa sociedade atual, foi assim em todas as sociedades, todas elas tiveram um padrão d beleza falso, e quase todos os seus membros tentaram se encaixar nele.
Se se sentir um objeto cobiçado faz bem a ela, coitada. Um dia vai arranjar quem a compre, ela vai estar vivendo uma falsa felicidade, e só qm vai perder com isso é ela.
O patriarcado está infiltrado na mente das mulheres. Uma vez o prof Filipe colocou na lousa uma frase: "o melhor escravo é aquele q se acha livre". Ela é a escrava perfeita.
http://anseios-secretos.zip.net

Filosofia na Escola Pública disse...

Cara Aline, que bom ter comentários seus no 'blog' da filosofia! Sim, a iniciativa quanto ao projeto Sala de Leitura teve uma boa adesão dos professores e de um grupo de alunos...pretendemos que ela se estenda aos funcionários, pois somos todos, quer queiramos ou não, educadores, com nossas explosões, nossos silêncios. A expecatativa foi gerada e não podemos decepcionar, pois diante da sede água é que espera, não é?! estamos programando várias atividades...as semanas seguintes serão o termômetro para a febre que já começara.
abraços fraternos, ternos, eternos, este último só pra rimar...
daniel marcolino

Filosofia na Escola Pública disse...

Cara, minha cara, vc não vai mais escrever nada, não?????? Há leitores que precisam manter seu espírito vivo...e nada melhor que palavras dúbias, curvilinhas como as de seu 'blog'. Abraços fraternos, daniel