domingo, 18 de janeiro de 2009

Sensibilidade é essencial.

Percebo no dia a dia as pequenas mentiras pelas quais me deixei persuadir, por talvez exaustão de ir contra o que já foi dito tantas vezes que é uma quase verdade, por talvez o medo da decepção.
O que tenho sentido é uma falta de sentido.
Quando observo pequenos fragmentos de mim espalhados pela casa e por onde passo, por Deus, como alguém chega a tantos pedaços e continua inteira?
Cansei de máscaras, quem eles acham que enganam?!
Chegou à garganta o grito 'Eu sei quem vocês são, que diabos! Quem estão tentando enganar?'.
E ele morreu na garganta, quem sabe a enganada sou eu.
Eu não tenho mais saco para a televisão.
Eu não tenho mais saco para jornais e revistas.
Eu não tenho mais saco para falsidades sociais.
Enfim, eu não tenho mais saco para quase nada.
Eu olho nos olhos das pessoas e vejo outras pessoas.
E há quem pense que estou doente.
Eis a questão.
Seria sensibilidade doença?
É fato que ando suscetível a emoções que vem e vão, mais do que deveria.
Mas seria sensibilidade um mal?
Quem sabe se fossemos mais sensíveis ao que causamos nos outros, não evitaríamos mortes? Guerras? Tristeza?
Por que as pessoas ainda tentam enganar umas às outras?
É uma falta de sensibilidade para olhar pelo lado do outro. Falta de sensibilidade para refletir que uma palavra sua pode despedaçar alguém em tantas partes quanto você jamais imaginaria.
Eu entrei em um momento de busca por uma verdade, a minha.
Como dizia Cazuza; "Ideologia, eu quero uma pra viver."

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Vazio

Quando acordei ainda havia vestígios das lágrimas derramadas na noite anterior. Duas rolaram pelas maçãs do meu rosto enquanto pisquei tentando despertar. Levantei-me de má vontade enquanto enxugava meus olhos apressadamente, não queria topar com um de meus fantasmas no corredor com a prova da tristeza brilhando bem na minha cara. Por sorte, o corredor estava vazio. Vai ver todas as lembranças resolveram ficar nos pesadelos daquela noite mal dormida. Maldita noite.
Arrastei-me até o banheiro preparando meu psicológico para enfrentar uma das maiores dificuldades do dia-a-dia. Vi-me refletida diante dela.
Maldito espelho.
Encarei-me por alguns segundos, notando as rodelas roxas e inchadas que se formaram acima de minhas bochechas até finalmente o despertador lembrar-me que deveria estar me apressando. Voltei ao quarto e dei-lhe um belo tapa. "Hoje é sábado, seu idiota". Ainda assim admitia que era eu quem havia esquecido de desligá-lo.
Maldita memória.
Desci as escadas, passei pela sala sombria e finalmente estava na cozinha. O cheiro de café sendo coado não estava lá, eu teria de fazê-lo sozinha.
Após ter tomado três xícaras daquele liquido preto, amargo e ruim e ter comido um pão velho com nada dentro, engoli os remédios que prometiam me manter normal por quanto tempo durassem os efeitos. Sinceramente não acredito que os efeitos ainda durem. Pouco importa, eu não queria mesmo ficar normal.
Malditos remédios.
Com o estômago cheio, eu não tinha mais o que fazer. Na sexta-feira já havia arrumado aquela casa por completo, não queria me tornar maníaca por limpeza, afastaria ainda mais os amigos que já não tenho. Eu precisava arranjar ocupação antes que minha mente vazia começasse a vagar por lugares doloridos demais, eu não queria recordar. Era difícil, especialmente nos fins de semana.
Malditos fins de semana.
Resolvi sair de casa, minha pele há tempos sentia falta do calor do sol. Talvez ela merecesse esse prêmio por não ter mofado ainda. Larguei a xícara de café e a mesa suja de pão, assim teria o que fazer quando voltasse. Escolhi uma roupa qualquer e me perguntei se estava bom daquele jeito. Apenas uma das vozes da minha cabeça aprovou, e era aquela mesma que me importava. De qualquer forma, as outras desaprovariam seja lá o que eu fizesse.
Malditas vozes. (Menos a que aprovou, bendita essa...bendita!)
Lancei-me do portão da minha casa afora. Confesso, me surpreendi quando notei que o mundo não havia parado conforme minha vida. Pessoas ainda andavam freneticamente pra lá e pra cá. Carros buzinavam. Alguns pássaros arriscavam sobrevoar o trânsito enquanto outros preferiam a traquilidade de uma ou outra àrvore que estava na rua. Tive vontade de voltar ao meu cantinho escuro e isolado, humilhada pelo mundo que fazia questão de deixar bem claro o quanto eu era insignificante ali. No entanto, eu não podia fazer aquilo. Estava decidida a não ficar em casa remoendo minhas mágoas.
Malditas mágoas.
Caminhei pela calçada até achar o parque. As lágrimas voltaram aos meus olhos. Consegui contê-las. Um avanço! Passei a andar em um caminho de pedra no meio de algumas àrvores centenárias, estava entorpecida e disposta a permanecer assim. Não sentia mais tanta tristeza, nem alegria também. Mas em compensação não doía, e isso era o que importava. De repente eu vi você de longe correndo na minha direção, o torpor cessou, só que não me importei. Não até perceber que não era você quem vinha. Balancei a cabeça e continuei a caminhar. Cheguei a uma rua do outro lado do parque, cheia de gente. Resolvi me misturar na multidão, e foi nela que vi seus olhos em um homem, seus cabelos em outro, o sorriso parecido em uma criança. Meu psiquiatra não ia gostar de saber disso.
Maldito psiquiatra.
Mas quem disse que ele tinha que saber? Fui juntando os pedaços de você espalhados em outros corpos, e pouco a pouco minha mente foi se deixando enganar, permitindo que eu sentisse você vivo ali, perto de mim, sorrindo pra mim, olhando pra mim, cuidando de mim como você sempre fazia. E eu sabia que o cheiro de café na cozinha nunca mais ia voltar, porque você não estaria lá para fazê-lo. Eu sabia que a voz dizendo que aquela roupa era perfeita para mim jamais seria literalmente ouvida, porque você já não estaria mais lá para falar. E eu sabia que não deixaria a casa desorganizada, porque você não estaria lá para me arrancar da limpeza e me levar ao cinema, ou a um almoço para nós dois enquanto a sala estava uma bagunça. Você nunca mais voltaria, talvez eu nunca mais o veja. No entanto eu ainda precisava sentir você aqui comigo, pois só isso me ajudaria a sobreviver outro fim de semana sozinha e o resto dos meus dias massantes. Eu ainda preciso de você.
Maldito luto.