terça-feira, 14 de outubro de 2008

Início.

De repente, após todo este ano compenetrada em reservar meus pensamentos apenas a mim e a pouquíssimas pessoas ao redor, após ter aceito o conselho de calar minha boca e após ter contrariado um dos traços mais marcantes em mim mesma, o de não ficar quieta, o de questionar em voz alta, que pode ou não ser uma qualidade, mas que ainda assim carrego; Eu cansei.
Eis o motivo de estar aqui, criando este blog com a finalidade de expressar algumas opiniões e compartilhá-las, discuti-las, aperfeiçoá-las.
Sim, eu já tenho um flog, mas ali eu prefiro postar qualquer coisa que acontecer. O que quero aqui é montar um blablablá de coisas que noto e não consigo deixar passar.
De início, gostaria relatar uma experiência que tive meses atrás, causando uma que sensação não me abandonou. Estava andando pelo bairro da Liberdade, em uma noite fria, congelante. Rumo ao metrô. Nas escadarias, vi um menino tão negro, tão negro, que se não fosse o branco de seus olhos talvez não o enxergasse. Ele estava sentado em um degrau, com o corpo inteiro enfiado numa camisa suja bege obviamente muitos números acima do que deveria usar. Seus olhos, assim como os gestos, eram desesperados por qualquer tipo de caridade, mais do que isso, por um pouco de atenção.
Ansiavam que alguém não só o notasse, como o visse. Apesar de não concordar com a conduta das esmolas, acabei despejando algumas moedas em suas mãos.
Até então, apesar de comovida, não era algo que saísse da rotina de uma cidade grande e monstruosa como São Paulo.
O que me chocou foi que, lá de baixo, quando olhei para cima, vi, alguns degraus mais alto que eu, o menino ainda parado tentando vencer o frio e, alguns poucos degraus acima dele, uma dezena de jovens entre 13 e 20 e poucos anos se divertindo, rindo alto, estridente. Alheios àquela criança, alheios ao frio, alheios à tudo que não girasse em torno da atmosfera que criaram para si naquele momento.
Eis a sensação que não me abandona mais. Não me sinto capaz de descrevê-la, mas se aproxima de uma espécie de indignação, com frustração, com desprezo, com desespero, com um nada enorme.
Nenhuma daquelas pessoas via, ou se via, sensibilizava-se com a situação de uma criança que não tinha mais de 10 anos passando frio e fome poucos degraus abaixo de seus olhos. Ninguém se importava. Já estamos tão acostumados com a impunidade que nos tornamos hipócritas. Eu diria ''coisificados'', desumanos.
O que afinal somos? Que sociedade construimos, ou no caso da minha geração, que sociedade sustentamos?
Não acho que devêssemos parar de rir, de nos divertir. Mas não acho que devemos ignorar situações como essa, que cruzam nosso caminho diariamente.
Quando iremos reagir?

6 comentários:

Tv BoLoVo disse...

bom não sei como começar ! alguma coisa desse tipo aconteceu comigo , eu fechei a loja que trabalhava acho era quarta feira eu fui andando até a metrô santa cruz passei enfrente a bobs eu vi um menino sujo desarrumado ele devia ter entre 12 a 10 anos , ele não me pediu dinheiro, ele só me pediu algo para comer bom eu olhei no fundo de seus olhos e vi que seu pedido para matar sua fome era sincero ,bom eu chamei-o para comer perguntei o que ele queria ele falou qualquer coisa então pedi um big bobs mas no meio da loja no bobs senti um olhar de repugnância tipo olhares tortos então peguei o lanche e dei para ele, bom falei para ele que tinha que ir embora por que eu tinha um compromisso ele me agradeceu e ficou feliz eu me senti um cidadão ajudando o proximo .Mas senti uma certa hostilidade do pessoal da loja sobre o pobre do garoto por que ele não estava bem arrumado.
o pessoal pode me achar bobo ou bonzinho de mais ou até idiota mas achei que estava fazendo a coisa certa.

Unknown disse...

Hum, realmente um pensamento interresante, sim somos hipocritas, fomos criados assim,e muitos nem se quer querem mudar, pra q se é comodo assim? Todos falando que devemos mudar, mas como noc omentario acima, uma pessoa faz algo para alguem necessitado e as pessoas a enchergam com nojo, repulsa, então ajudar é bonito falando, mas na hora todos viram a cara.
Mudar a imagem da sociedade, como nossos descendentes enchergam os outros é o que devemos fazer, ou no futuro nada vai mudar, asm bem como eu disse, falar é facil, agir é outra historia, mas quem sabe a humanidade ainda tem alguam salvação

Filosofia na Escola Pública disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Filosofia na Escola Pública disse...

Que coisa boa sua idéia de criar um 'blog', Aline!!! E já começa com um texto sensível, delicado e pungente, extraído/construído a partir de uma situação cotidiana, isto é, fica entre a crônica e o ensaio...muito significativa a parte que diz "uma espécie de indignação, com frustração, com desprezo, com desespero, com um NADA ENORME...".
Ah, aproveito para dizer que já li o mangá que a Natália me emprestou e que agora aguardo pelo filminho que você disse que era bom.
antes de assinar este comentário, gostaria de dizer que sou muito grato (nao sei se é bem essa a idéia, não sei exatamente se se trata de gratidão) pelos comentários, participação e bate-papos antes e depois das aulas. partilhar idéias e sensibilidades, ensaiar, pois o dis-curso no palco da vida numa instituição pública me faz pensar e acreditar no processo e na forma democrática, ainda quê...daniel marcolino

Filosofia na Escola Pública disse...

cara aline, devo expressar meu entusiasmo pelo 'meu' segundo mangá. Sim, a Natália me emprestou. quando vocês puderem...estarei esperando pelo filminho (ou não sei o quê) e pelo terceiro volume deeee 'The Death Note'...
gracias...daniel

Unknown disse...

Palavras de minha professora de história: "O capitalismo é um sistema excludente." Se você não gosta da exclusão, você não gosta do capitalismo.